Você pode virar roqueira, punk, hippie, na vida adulta, mas, na infância, dificilmente escapa da fase de se imaginar uma princesinha

Incrível como em pleno século XXI um casamento na realeza ainda mobiliza tanta gente. E gente de todo o tipo e de várias partes do mundo. Viram a mexicana que fez greve de fome, durante 16 dias, com o objetivo de ser convidada para o casamento de William e Kate? Arrumou o dinheiro da passagem, mas acabou deportada e nem chegou a entrar no Reino Unido.imagem

Por aqui, uma amiga está enlouquecida há semanas com o enlace. Até convenceu sua chefe a comprar champanhe para que as duas assistam juntas, pela TV, à cerimônia na sexta-feira.

É claro que essa mobilização atinge majoritariamente as mulheres. E isso tem uma explicação: princesas fazem parte do nosso imaginário. Você pode virar roqueira, punk, hippie, na vida adulta, mas, na infância, dificilmente escapa da fase de se imaginar uma princesinha. E isso é tão incutido em nós que, mesmo depois de crescidas, procuramos quem como par ideal? O príncipe encantado.

Já viram algum homem usar a expressão “princesa encantada” para definir a mulher da sua vida? Nunca! No máximo, usam o termo “princesinha” para cantar alguém e, ainda assim, é mais no sentido de ressaltar a beleza delicada de uma fêmea – ah, esse pragmatismo masculino! – e menos para definir a mulher perfeita para se tornar sua companheira.

Pode estar aí a chave para entender esse fascínio com o casamento de William. Afinal, o filho de Lady Di e de Charles é um legítimo herdeiro da realeza mais importante do mundo e não um personagem de ficção. E mais: ele escolheu como esposa uma plebeia, o que faz com que as moçoilas se sintam na pele de Kate Mindleton. Como acontece nos contos de fadas. Depois disso, só mesmo um “felizes para sempre” para arrematar? Não é mesmo?

Não. Casar-se com o príncipe não é garantia de nada. O diria Lady Di se não estivesse morta.

Diane Spencer e o príncipe Charles se uniram em 1981 no que foi chamado de “o casamento do século”. O mundo parou para ver a cerimônia. Embora tenha durado até 1996, a união foi marcada por escândalos.

Charles demonstrou ser, na verdade, um ogro – não um Shrek, porque este pelo menos é um marido amantíssimo de Fiona -, quando foi flagrado, numa conversa telefônica, dizendo à sua amante, Camilla Parker-Bowles, que queria ser seu Tampax.

Além de trair a princesa desde sempre, segundo a própria Diana disse em uma entrevista na TV anos depois, Charles demonstrou ser péssimo em declaração de amor. Nada do que se espera de um príncipe!

Como disse uma amiga, Charles está mais para a música de Jorge Ben, “Roberto Corta Essa”, que diz: “Você trocou uma princesa/Uma princesinha por um dragão/Me desculpe meu amigo/Você merece um beliscão”.

Então, príncipes encantados, meninas, não existem – não como exemplo de homem ideal -, a não ser no conto de fadas. Ainda assim porque as histórias não têm continuidade. Melhor mesmo é encontrar alguém que nos ame e nos faça rir e não criar grandes expectativas porque até isso pode mudar ao longo dos anos.

William e Kate podem, sim, terem um casamento feliz, mas não por serem príncipe e princesa, mas porque se amam verdadeiramente e vão saber fazer dessa relação algo relevante para suas vidas. Isso, o tempo dirá.

No mais, vamos acompanhar a cerimônia – eu, só vou ver depois porque não vou acordar cedo para isso -, comentar sobre o vestido da noiva, saber sobre quem quebrou o protocolo, descobrir o menu da festa… Essas bobagens todas. E só, por favor!

* SILVANA MASCAGNA escreve no Magazine às quartas-feiras. mascagna@otempo.com.br

Publicado originalmente no jornal O Tempo, edição de 27/04/2011. Fonte: O TEMPO

Um comentário sobre “Príncipes encantados não existem *

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